GRES Independentes de Olaria – Sinopse do enredo para o Carnaval 2020

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A Escola de Samba Independentes de Olaria divulgou a sinopse do enredo 
que apresentará no Carnaval 2020, em seu desfile pela Série C, da 
LIESB, na Intendente Magalhães.

A agremiação tem por enredo “O ACÓLITO DO REI”, de autoria de Ariel 
Portes e Guilherme Estevão e desenvolvimento do carnavalesco   Marcos 
Januário.

Confira a sinopse.

GRES INDEPENDENTES DE OLARIA – CARNAVAL 2020

ENREDO: “O ACÓLITO DO REI”

Era sábado, em mil setecentos e sessenta e sete, num dia vinte e cinco 
do mês de Abril. Nascia o menino Luiz Gonçalves dos Santos numa terra 
chamada Brasil. Figura pra lá de pitoresca, de corpo franzino e cabeça 
gigantesca, olho esbugalhado e um futuro tanto quanto estudado, muitos 
anos depois, chegando até a ser cantado e contado em avenida popular e 
irreverente por uma escola azul e branca chamada Independente.
O menino de corpo engraçado, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos 
Homens Pretos foi batizado. Um recanto especial, era da cidade a 
catedral, que viria a ser local da grande memória do pequeno Luiz. 
Bons anos depois, religioso foi iniciado, cônego formado e pela 
colônia batizado como Padre Perereca.  Tornou-se figura importante 
nesse rincão, tinha a mais completa devoção pelo seu rei, o sexto Dom 
João. Como padre da capela imperial, acompanhava com ansiedade a vinda 
da “augusta rainha e o teu excelso príncipe com sua família real”.
Em sete de março do oitavo ano depois de mil e oitocentos, a corte 
estava a caminho do Rio de Janeiro, “a cidade mais ditosa do Novo 
Mundo!”. Seriam “as primeiras majestades que o hemisfério austral viu 
e conheceu”. Perereca encarava a aventura como ato de bravura, o que 
na verdade não passou de uma grande fuga, de um Napoleão que prometeu 
invadir Portugal, por ser recusarem a aplicar o Bloqueio Continental.
Um primeiro desembarque foi frustrado. A nau atracou em lugar errado, 
ampliando a ansiedade de Perereca com a chegada de seu rei. 
Desembarcaram em Salvador e por lá sua Alteza um mês ficou. Enquanto 
isso, os preparativos na terra de São Sebastião se intensificavam, o 
Vice-Rei muita gente desalojava, para dar moradia aos portugueses que 
chegariam. As mazelas dessa colônia injusta e desorganizada eram 
minimizadas pelos relatos do Padre, que acreditava que viveriam um 
outro momento, de progresso e desenvolvimento.
Como bom acólito, ou “puxa-saco” no atual português, registrou o tão 
sonhado dia com a grandiosidade que se pedia, ou a que, na verdade, 
ele gostaria. Depois de três meses e uma semana de viagem, “eram duas 
ou três horas da tarde (…) desde a aurora, o sol nos havia 
anunciado, apartando a si todo obstáculo, como se regozijava de 
presenciar a triunfante entrada do primeiro soberano da Europa na mais 
afortunada cidade do Novo Mundo”. Empregado de tamanha louvação, 
Perereca se estendeu na descrição enumerando a comitiva que esperava 
para receber D. João.
No desembarque, a corte “caminhava sobre um chão coberto de areia e 
ervas odoríferas. Um coreto junto à rua do Rosário fazia ouvir 
melodiosas vozes instrumentais como vocais, entoando hinos de júbilo e 
louvor a Sua Alteza Real”. Nesse cenário maravilhoso e festivo, o 
acesso ao Rei era restrito a figuras importantes da colônia brasileira.
Fazia-se festa na Igreja do Rosário, onde menino Perereca foi 
batizado, mas ouvia-se o batuque com o povo pobre que do lado de fora 
ficou alojado. Os sons que às festas e ritos católicos foram 
miscigenados, construindo, com a vinda do Rei, um novo calendário.
Com a chegada de D. João, o Brasil passou a viver, segundo Perereca, 
tempos de “felicidade, honra e glória”. Dessa maneira, foi escrevendo 
a história, tornando-se o primeiro redator da Imprensa Régia e 
consolidando a oficial memória desse país. Relatou as transformações 
que a colônia sofreu, como a abertura dos portos se deu, até o momento 
em que Sua Alteza, para a sua tristeza, à Portugal volveu.
  Mas em todos as suas crônicas e narrativas apenas um olhar aparecia, 
ignorando, de forma até cômica, os problemas que aqui surgiam. Um 
jeitinho “pererequês” que brasileiro se fez. Construindo um olhar 
maravilhoso de um governo, exaltando seu “soberano”, que deixa de ser 
humano e se torna Deus. Omitindo o que o povo sofre, renegado a 
própria sorte e consciência. Qualquer semelhança com os tempos de 
agora é mera coincidência…ou não.
Quantos Pererecas esse Brasil já construiu? Se antes lançavam livros, 
hoje lançam fake News. Mas no fim, quem vive por aqui sabe, que de 
Perereca em Perereca o brejo continua o mesmo nesse país engraçado e 
pitoresco que luta por igualdade e tem na paz o seu maior desejo.

Texto e desenvolvimento: Guilherme Estevão
Autoria do enredo: Ariel Portes e Guilherme Estevão (Departamento Cultural)
Carnavalesco: Marcos Januário