Mostra Brasil Futuro: As Formas da Democracia no Museu de Arte do Rio (MAR)

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A mostra Brasil Futuro: As Formas da Democracia, é a única em circulação no Brasil que tem como tema e motivação um processo histórico recente: a reconquista da democracia. A mostra foi pensada logo após a vitória eleitoral do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Segundo Lilia Schwarcz, antropóloga, historiadora e uma das curadoras da exposição, “após quatro anos de governo do Jair Bolsonaro, o grande tema seria democracia. Democracia não como projeto completo, mas justamente como um projeto por definição incompleto, um processo, porque direitos a gente nunca acaba de constituir. Foi assim que surgiu a ideia da exposição”.

Brasil Futuro: As. Formas da Democracia, apresentada no MAR pelo Instituto Cultural Vale e o Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF), se revelou, de fato, como um grande projeto em aberto. Aberta ao público no dia 2 de janeiro deste ano no Museu da República, em Brasília, a mostra foi visitada pelo Presidente Lula no dia 8 de fevereiro, um mês após o Museu e a Mostra terem sido as primeiras vítimas dos invasores que tomaram a Praça dos Três Poderes e vandalizaram símbolos da República. Como resposta, mais de 60 mil pessoas visitaram a exposição e contemplaram as mais de 170 obras de 138 artistas presentes na mostra.

Saindo de Brasília, a mostra começou sua itinerância pela Casa das Onze Janelas em Belém, no Pará, onde contou com a curadoria adjunta da artista visual Roberta Carvalho, vencedora do Prêmio FUNARTE Mulheres nas Artes Visuais. Na capital paranaense, a mostra alcançou o número de 220 obras e com mais 36 mil visitantes. Saindo de Belém, Brasil Futuro: As Formas da Democracia foi para o Centro Cultural Solar do Ferrão, no Pelourinho, em Salvador, onde esteve antes de chegar ao Museu de Arte do Rio (MAR). Foi ainda na capital baiana que a curadoria adjunta ganhou novos integrantes: Daniel Rangel, Adriana Cravo, José Eduardo Santos e Vilma Santos, do Acervo da Laje e Lázaro Roberto e José Carlos Ferreira, do ZUMVÍ Arquivo Afro-fotográfico, ambas instituições fundadas e fundamentadas nas periferias de Salvador.

Uma das iniciativas mais pungentes da arte contemporânea no Brasil e no Mundo, o Acervo da Laje é montado a partir de obras de artistas do Subúrbio Ferroviário de Salvador e se constituiu enquanto museu-casa-escola do e para o Subúrbio. Iniciativa oriunda de diferentes bairros da periferias de Salvador ainda na década de 90, o ZUMVÍ Arquivo Afro-fotográfico é Internacionalmente reconhecido por preservar um grande número de obras de fotógrafos negros que, desde a ditadura militar, destruíram paradigmas relacionados à imagem dos corpos negros saindo da teoria e registrando pessoas negras em momentos de luta, glória, beleza e serenidade em Salvador, cidade mais negra do mundo fora do continente africano. Além disso, o arquivo do ZUMVÍ também preserva um conjunto de obras que narram as movimentações, estratégias e lutas dos movimentos negros em Salvador. O ZUMVÍ que começou sua inserção no circuito de exposições em museus no MAR em 2014 como participante da mostra “Do Valongo à Favela: imaginário e periferia”, participando também de outras exposições no Museu de Arte
do Rio, agora retorna ao MAR como curador adjunto da mostra Brasil Futuro: As Formas da Democracia.

No Museu de Arte do Rio, Marcelo Campos e Amanda Bonan integraram a curadoria adjunta da mostra Brasil Futuro, que traz para a capital fluminense uma narrativa sobre democracia jamais vista. Aliás, estava mesmo nos planos da curadoria não começar a itinerância pelo Sudeste. Segundo a curadoria, “a gente ficou com vontade de fazer um percurso diferente do percurso tradicional cujo primeiro lugar é São Paulo ou Rio. Primeiro porque nós achamos justo, já que o governo Lula deve muito ao Nordeste. Mas também fizemos isso por uma questão política: as nossas histórias ainda são muito sudestinas. Ou seja, o Sudeste fala pela nação. Não pode ser assim, né?”. Na curadoria da mostra há integrantes de todas as regiões do Brasil e além de apresentar outras narrativas e representatividade nordestina, indígena, negra, LGBTQIAPN+, a mostra Brasil Futuro reconhece que representação estética também deve vir acompanhada
de garantia de direitos. É por isso que a mostra é publicamente reconhecida como “fruto da mão de obra de centenas de trabalhadores que não pouparam esforços para erguer e materializar o sonho de um Brasil possível, democrático e socialmente justo”.

Joviano de Sousa Araújo, Renato Rodrigues de Jesus e Carlos Alberto Vieira dos Santos, trabalhadores do MrN, contaram ao Brasil de Fato que pela primeira vez se sentiram parte de uma exposição. O pintor Lourival Lima, afirmou que “foi um grande prazer fazer parte desse projeto que conta uma parte tão importante da história do nosso país, ainda mais em um momento como esse, onde a democracia se fez presente de uma forma tão imponente. Muito obrigado por valorizar os trabalhadores que estão por trás de tudo isso”. declarou Lourival, na reportagem de Gisele Figueiredo. Segundo Leonardo Góis, coordenador geral da mostra, “a exposição, como produto cultural, não deve ser apenas bela, mas também ter imaculada sua dimensão ética”.

Segundo crítica publicada na Revista Select, a mostra Brasil Futuro conta com “obras, artistas e diálogos tecidos de forma que não busca negar os desafios e contradições. Não há razão para enganar a memória a fim de projetar um futuro utópico. Podemos finalmente olhar sem temer para o presente. Ver Orixás de Djanira agora no seu devido lugar não nos serve para esquecer as mazelas. Mas tampouco para limitar-nos a elas. Assim, temos um retrato do Brasil.” Entre as centenas de obras presentes na exposição, vale ressaltar Hakukãn (1998), de Ailton Krenak, única pintura exposta do filósofo e líder indígena no mundo. Com a mostra Brasil Futuro: As Formas da Democracia, o Museu de Arte do Rio acolhe e projeta para o país outras narrativas, perspectivas e estéticas sobre outras regiões do Brasil com toda nossa capacidade de criar mundos no mundo. Para Rogério Carvalho, um dos curadores da exposição e curador dos acervos do Palácio do Planalto e do Palácio do Alvorada, “a grande força da exposição está, não na apresentação de um projeto individual, mas sim na reunião de todos os conceitos e expressões artísticas promovendo algo que realmente tem força. As exposições, como a arte contemporânea, devem refletir a sociedade atual, cada vez mais complexa e plural”.

 

SERVIÇO:
Exposição “Brasil Futuro: As formas da democracia”
Visitação: A partir de 9 de dezembro de 2023 até 03 de março de 2024
De terça a domingo, das 11h às 18h
Endereço: Museu de Arte do Rio (MAR), Praça Mauá, 5, Centro – Rio de Janeiro, RJ
Ingressos: R$ 20,00 (inteira). R$ 10,00 (meia)